O MARECHAL DA CULTURA
MARECHAL DEODORO (AL) - Lá em cima na mitológica
Normandia, cabeça e norte da França, estuário do rio Sena, de frente para a
Inglaterra a quem pertenceu em tempos passados, separadas pelo Canal da Mancha
sob o qual passa hoje o túnel onde mergulha o trem que liga os dois países,há
uma pequena cidade encantada com nome de
flor: Honfleur.
O vale do Sena é bordejado de verde e de vaquinhas normandas. Famosos o
creme de leite e o Camembert da Normandia. E o conhaque Calvados e a
cidra, produzidos com as maçãs que enfeitam os prados.
Honfleur no século 15 era um porto defensivo contra invasões inglesas,
em formato retangular e cercado por três ruas de edificações seculares. É como
se fosse uma praça, só que no meio é água e o quarto lado dá para o rio Sena,
que desemboca no Atlântico um pouco mais adiante. As casas dão a impressão de
ter 500 anos ou mais, até hoje habitadas. A primeira referencia
histórica a Honfleur é de 1027.
HONFLEUR
E o que Alagoas tem com isso? Tem
tudo. Em 1500, Portugal chegou a Porto Seguro, viu, gostou, admirou, elogiou,
plantou o Marco do Descobrimento, ergueu uma cruz, celebrou uma missa e foi
embora. Os piratas fizeram a festa. Sobretudo os franceses. Durou séculos o
saque, o contrabando e a farra do Pau Brasil. Em Alagoas os caminhos estavam
prontos: havia o mar com a “Praia do Porto do Francês”, o rio São
Francisco, os rios Mundau e Paraiba, as lagoas. Eles chegavam, pegavam o Pau
Brasil e levavam, sobretudo para os portos do Havre e de Honfleur, um
em frente ao outro. Era o Brasil construindo a Europa, as casas da
Europa. Em 1611 nasceu a primeira capital de
Alagoas (hoje Marechal Deodoro) como “Povoado de Vila Madalena de Sumaúna”,
para proteger o pau-brasil do contrabando e da ação de piratas e outros. Em
1636 já era o “Município de Santa Maria Madalena da Lagoa
do Sul”. Só em 1817 capital da capitania de Alagoas, com o nome de Alagoas. Em
1823, cidade. Em 1839, a capital foi para Maceió. E em 1939 o nome da velha
cidade foi mudado para Marechal Deodoro, em homenagem ao filho ex-presidente.
A “IIIª
FLIMAR”
Há
três anos o talento, competência e dedicação do jornalista, escritor e coronel
(do Exercito) Carlito Lima, secretario de Cultura da cidade, criaram a FLIMAR
(Festa Literária de Marechal Deodoro). Nesse final de semana, realizou-se a 3ª.
Veio gente do pais inteiro, do Rio Grande do Sul ao Amapá, e da America Latina:
jornalistas, escritores, conferencistas, poetas, cantores, grupos de
teatro, folclore. Durante cinco dias, diante de suas magníficas igrejas
barrocas e sobrados patinados, e sobre as praças de pedras seculares, a cidade
tornou-se um anfiteatro da cultura a céu aberto.
Este
ano, a IIIª FLIMAR homenageou três consagrados intelectuais: o antropólogo e
folclorista alagoano Theo Brandão (Theotônio Vilela Brandão), que fez parte da
celebrada geração de Graciliano Ramos, Raul Lima, José Lins do Rego, Rachel de
Queiroz e seu marido José Auto, Aurélio Buarque, Diegues Junior,
tantos outros; homenageou também o alagoano acadêmico Ledo Ivo, maior poeta
vivo do pais, e o consagrado romancista baiano-carioca Antonio Torres, Premio
Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, com palestras sobre
as obras de cada um.
“A
NUVEM”
Todos os dias, de manhã, de tarde e à noite, intelectuais fizeram
conferencias. Ricardo Cravo Albin, com sua sabedoria e bagagem
histórica,celebrou os 100 anos de Luiz Gonzaga, mostrando a contribuição do Rei
do Baião para o pais ficar conhecendo o verdadeiro rosto do
Nordeste.
O romancista Antonio Torres, o jornalista e escritor Luiz
Gutemberg e Janaina Amado debateram o significado litero-cultural do centenário
do saudoso Jorge Amado. A escritora e critica literária baiana Miriam Salles
analisou a nova literatura nordestina, amazônica e do Centro-Oeste.
Durante três horas, a carioca Beatriz Rabello apresentou
para dezenas de bibliófilos uma oficina de restauração de
livros antigos.
E
eu mostrei minha experiência, no Brasil e como correspondente de imprensa, de
meio século de jornalista que também publica livros, como contei em meu ultimo
livro “A NUVEM – O Que Ficou do Que Passou”.
sebastiaonery@ig.com.br
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